.
Desde as nove -Meia-noite e meia. Rapidamente passam as horasdesde as nove em que acendi o candeeiro,e aqui me sentei. Estava sentado sem ler,e sem falar. Falar com quemtotalmente só nesta casa.O simulacro do meu corpo novo,desde as nove em que acendi o candeeiro,veio e encontrou-me e lembrou-mefechados quartos com aromas,e prazer passado - que prazer valente!E trouxe-me também diante dos olhos,ruas que se tornaram agora irreconhecíveis,sítios cheios de movimento que findaram,e teatros e cafés e era uma vez que o tempo tem.O simulacro do meu corpo novoveio e trouxe-me as tristezas também;lutos de família, afastamentos,sentimentos de gente minha, sentimentostão pouco apreciados dos mortos.Meia-noite e meia. Como passam as horas.Meia-noite e meia. Como passam os anos.Konstandinos Kavafis
tradução de Joaquim Manuel Magalhães
Relógio d'Água
.RMR