No meu caso, cada vez que entro na minha biblioteca, faço-o como quem regressa a um subúrbio, ao lugar mais real do meu mundo, um quotidiano preenchido de silêncios e sincera falsidade, que da escassez de tempo, transforma a solidão à revelia em espera, uma condição hostil à memória.
Nesse arrabalde pequenas identidades sobressaem, pontuadas no fundo escuro das lombadas, vizinhanças despertas que me conhecem os hábitos, onde moram as frases que com o pêndulo das minhas chegadas e partidas, me definem. A sua leitura, uma prática sem réplica, residente e sem ruído, onde adormece o coração e dessa paisagem, de renda baixa e acessos condicionados, a morada da voz que conspira contra a sua própria ironia, que não responde, onde o regresso é o desejo e a rotina o amor.
.RMR
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